Dona Dorçulina nasceu no Rocio, em Guaraqueçaba no dia 26 de agosto de 1915, filha de Antônio Martins Fagundes e Ermelina Maria do Carmo. Seu pai, um grande violeiro de fandango. Casou-se com o alemão Otto Eiglmeier, com quem teve doze filhos. Mudara-se para Rolândia, durante a guerra mundial, retornando para sua Guaraqueçaba anos mais tarde.
Muitos de nós, fandangueiros e eternos amantes deste fandango, com certeza estivemos por horas nos deliciando nas histórias que Dona Dorçulina nos conta. Quanto aprendizado e que memória. Seguem fragmentos de depoimentos que pudemos recolher nestes anos de amizade:
Muitos de nós, fandangueiros e eternos amantes deste fandango, com certeza estivemos por horas nos deliciando nas histórias que Dona Dorçulina nos conta. Quanto aprendizado e que memória. Seguem fragmentos de depoimentos que pudemos recolher nestes anos de amizade:
- “Quando tinha Fandango de Finta era assim. Queria fazer um Fandango, então por acaso, não é de trabalho não é nada. Amanhã é sábado, vamos fazê um fandango. Então saiam pedir em cada casa, que cada um dava um dinhero pra comprá pinga, comprá café, comprá açúcar, pão, comprá tudo pra fazê o fandango”.
- “Nos bailes, quem não trabalhava não entrava. As vez fazia questão que entrasse se fosse pessoa boa né. Ia lá e falava pro dono da casa, daí o dono dizia, bom o baile é dos que trabalhou né. Aí chamava o pessoal e vejam que ele qué entra no baile. Se era safado não ia não. Não queria trabalhá mas queria i no baile. Acontecia que as vez chegava uma pessoa que não sabia daquele baile . Daí então eles recolhiam né”.
- “No Gambá a primeira camada de arroz era só o home que batia. Depois que ficava mais pouco, as mulher também dançava e era valsado e batido. Afastavam e punham outra camada de arroz. Batiam na noite ali. Era onze arqueres e boca da noite servia café com pão, meia noite café, pelas duas da madrugada café e pinguinha. Não tinha comida. Mas não era co tamanco. Era só com o pé mesmo”.
- “No Gambá a primeira camada de arroz era só o home que batia. Depois que ficava mais pouco, as mulher também dançava e era valsado e batido. Afastavam e punham outra camada de arroz. Batiam na noite ali. Era onze arqueres e boca da noite servia café com pão, meia noite café, pelas duas da madrugada café e pinguinha. Não tinha comida. Mas não era co tamanco. Era só com o pé mesmo”.
- "Esse multirão não é de hoje. Já os escravos faziam né, trabalhavam de mutirão. Tinha também a Pacotilha, onde você tem a roça aqui. Convida 4 ou 5 pessoa, trabalha e acaba aqui naquele dia. Outro dia faz mesmo pro outro. Mas não tem baile”.
MASSAROTTO, sobre Dona Dorçulina, escreveu: "... ela não se alfabetizou, mas decorava as cartilhas do irmão mais novo, que ela mesma, matriculou na escola, e, desta forma, aprendeu a ler e a escrever o próprio nome. Ela sabe muitas histórias advindas da cultura do fandango, assim como das relações sociais da década de 20 em diante. Tem uma memória riquíssima, além de um ótimo humor. Observei que, muitos pesquisadores já tiveram contato com Dursulina, e que, por isso, ela sente-se a vontade para contar suas histórias e experiências, visto que, desta forma, ela sempre tem com quem conversar e partilhar sobre suas experiências de vida. Durante a entrevista, pude experimentar seu cafezinho várias vezes, que, como um elo a mais, consolidou nossos contatos e relação de amizade. A hospitalidade e generosidade me conquistou".
Dorçulina é sócia fundadora da Associação dos Fandangueiros do Município de Guaraqueçaba, juntamente com seu filho Zéco, atual presidente desta instituição.
MASSAROTTO, sobre Dona Dorçulina, escreveu: "... ela não se alfabetizou, mas decorava as cartilhas do irmão mais novo, que ela mesma, matriculou na escola, e, desta forma, aprendeu a ler e a escrever o próprio nome. Ela sabe muitas histórias advindas da cultura do fandango, assim como das relações sociais da década de 20 em diante. Tem uma memória riquíssima, além de um ótimo humor. Observei que, muitos pesquisadores já tiveram contato com Dursulina, e que, por isso, ela sente-se a vontade para contar suas histórias e experiências, visto que, desta forma, ela sempre tem com quem conversar e partilhar sobre suas experiências de vida. Durante a entrevista, pude experimentar seu cafezinho várias vezes, que, como um elo a mais, consolidou nossos contatos e relação de amizade. A hospitalidade e generosidade me conquistou".
Dorçulina é sócia fundadora da Associação dos Fandangueiros do Município de Guaraqueçaba, juntamente com seu filho Zéco, atual presidente desta instituição.
Dona Dorçulina (foto Zé Muniz)
Vera Mussi (Sec. Cultura PR), Rebeca (IPHAN), Dorçulina (Associação dos Fandangueiros), Leonildo Pereira e Bonifácio
No ano de 2008, durante o II Encontro de Fandango (26/07) e Cultura Caiçara, juntamente com Leonildo Pereira, entregaram ao IPHAN, o pedido de registro do Fandango Caiçara como Patrimônio Imaterial do Brasil.
No dia 03 de fevereiro de 2010, Dona Dorçulina foi agraciada com o Prêmio de Culturas Populares Mestra Izabel, porém, infelismente não pode ver tal reconhecimento em vida, pois faleceu no dia 04 de janeiro.
Fonte: Nosso Pixirum - Informativo Juvenil - Guaraqueçaba
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