Aprender a dança caiçara não é tarefa difícil, mas é preciso conhecer alguns costumes para não cometer nenhuma gafe no salão:
O relógio marca 22 horas e os músicos já estão a postos. Com a viola na mão, o mestre fandangueiro Nemésio Costa avisa: “O baile vai começar e a festança só acaba às 4 horas da matina”. Em volta do tablado – de tábuas largas e flexíveis para ressaltar a sonoridade das batidas do tamanco –, montado no centro do Mercado do Café, em Paranaguá, a disputa das damas pelo melhor lugar nas poucas mesas disponíveis é grande. Afinal, quanto mais próximas da pista, maior é a chance de serem convidadas a dançar uma moda.
O relógio marca 22 horas e os músicos já estão a postos. Com a viola na mão, o mestre fandangueiro Nemésio Costa avisa: “O baile vai começar e a festança só acaba às 4 horas da matina”. Em volta do tablado – de tábuas largas e flexíveis para ressaltar a sonoridade das batidas do tamanco –, montado no centro do Mercado do Café, em Paranaguá, a disputa das damas pelo melhor lugar nas poucas mesas disponíveis é grande. Afinal, quanto mais próximas da pista, maior é a chance de serem convidadas a dançar uma moda.
Elas vão chegando aos poucos, acompanhadas de seus esposos e
namorados ou, na maioria das vezes, de amigas fandangueiras. A produção é
feita com esmero: vestidos de festa, maquiagem impecável e perfume no
ar. Os cavalheiros não ficam atrás e também capricham no traje para
impressionar o público feminino. A vestimenta, contudo, é apenas um mero
detalhe neste cenário, onde o importante é ter um bom bailado.
O convite
No baile de fandango do Mercado do Café, as damas são maioria.
Sentadas nas mesinhas, elas abanam seus leques e aguardam um convite
para dançar, enquanto os homens vão fazendo suas escolhas. Figuras já
conhecidas, José Cardoso, o Zequinha, de 75 anos, Seme Balduino, de 68
anos, e Claro Gonçalves de Oliveira, de 76 anos, não arredam o pé do
tablado nem durante o intervalo entre uma moda e outra. Quando uma
música para, já retornam ao centro da pista e voltam os olhos para as
mesinhas, em busca da próxima companheira para bailar.
Muitas vezes o convite é feito de forma tão discreta que chega a ser
imperceptível. Basta um olhar, um gesto rápido com a mão ou um sinal com
a cabeça para a senhora se aproximar. Antigamente, um convite recusado
significava, para a dama, passar o restante da noite na cadeira: caso
fizesse uma desfeita a um cavalheiro e aceitasse ir para a pista com
outro, a briga era certa. Hoje, mesmo sem a imposição, dificilmente uma
dança é recusada.
Convite feito e aceito, o tablado vazio vai se enchendo de pares
rapidamente. Quando duas mulheres são avistadas dançando juntas é sinal
de que está faltando homens de atitude no baile. Ou ainda, de que os
cavalheiros estão deixando a desejar, brincam os fandangueiros
experientes. A tradição manda que, rapidamente, dois homens subam ao
tablado e tirem cada uma das damas para a dança. Convidar apenas uma
delas seria uma grande grosseria, dizem os frequentadores.
Cortejo
Um cavalheiro interessado em cortejar uma dama no baile deve, em
sinal de respeito, tirar para dançar primeiro a mãe da moça, caso ela
esteja no salão. Mas, se a avó (ou até a bisavó) da garota também
estiver no baile, elas têm prioridade nos primeiros passos. Isso vale
também para quem chega pela primeira vez em um baile de fandango. Um
homem respeitador convida, primeiramente, a senhora de mais idade do
salão para a primeira moda.
Outra tradição fandangueira levada a sério é a de que no baile não se
beija. Discrição é palavra de ordem. Se a dama tiver interesse pelo
cavalheiro, e ambos forem desimpedidos, ela pode demonstrar isso com um
aperto na mão do companheiro durante a dança. Se for correspondida, o
encontro pode ser combinado, mas só após o final da festa, já que
ninguém quer largar o baile no meio.
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